Projeto Perception pretende apresentar uma plataforma que combina tecnologia e ferramentas de processamento de dados para mapear áreas críticas nos dois biomas
Por Luis Felipe Azevedo
— O Globo Rio de Janeiro
17/06/2025 03h30 Atualizado há 10 horas
Liderados pelo pesquisador do Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos (IEEE) Renato Borges, cientistas da Universidade de Brasília (UnB) trabalham em uma missão espacial brasileira para escanear os biomas da Amazônia e Cerrado, para contribuir com o enfrentamento às mudanças climáticas. O Projeto Perception pretende apresentar uma plataforma que combina tecnologia e ferramentas de análise e processamento de dados para mapear áreas críticas nos dois biomas.
O projeto promete detectar, em tempo real, variações climáticas e degradação do solo, além de proporcionar material para o desenvolvimento de políticas públicas de preservação.
— Ao entregar informações em tempo real, o Perception contribui para mais assertividade no manejo sustentável do solo, ajustes climáticos e prevenção contra possíveis danos decorrentes de tragédias naturais. Sem contar em oportunidades abertas para pesquisadores, estudantes e interessados em temas como engenharia aeroespacial, geociências, modelagem climática, ciência de dados, telecomunicações e eletrônica embarcada — diz Borges, que também é professor na UnB.
O sistema Perception conta com uma plataforma para testar e validar redes de comunicação: a FlatSat Perceive, que reúne um sistema completo de satélite para protótipos e consolidação de tecnologias da comunicação espacial. A estrutura deverá amparar futuros satélites e servir de canal de demonstração tecnológica de carga para obter informações sobre a área monitorada.
O aparato vai ser dividido em duas frentes de aplicação: uma nas torres de captação instaladas na Floresta Amazônica, que contam com parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e a Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e a outra, no Cerrado, dedicada a detectar informações de recursos hídricos e de fluxo de carbono na região.
Os sistemas de coleta de dados são baseados em duas redes principais que se dedicam ao envio de volumes expressivos de informações e à comunicação crítica em banda estreita que será viabilizada pelo satélite Perceive. Os pesquisadores estimam que o aparelho será lançado até o final do próximo ano. Já o piloto da plataforma Perception deve ser entregue no segundo semestre deste ano.
— Temos urgência de avançar o quanto antes para fortalecer iniciativas de proteção ambiental no país — defende Borges.
A estrutura é planejada para ser o primeiro satélite operacional do Sistema Perception, que se encontra atualmente em fase de revisão e ajuste do modelo de arquitetura de sistemas, análise de missão, modelagem de desenvolvimento e especificação dos requisitos técnicos. Segundo Borges, no longo prazo, a missão poderá ser expandida para fazer a varredura de outros biomas, zonas costeiras, áreas de risco e fronteiras agrícolas tidas como relevantes pelas autoridades.
Os pesquisadores defendem que a iniciativa também pode fazer a diferença “na gestão agrícola, no ganho de eficiência energética e hídrica da região contemplada pelos mecanismos de observação”. A detecção precoce de ameaças naturais e a ação imediata para minimizar impactos ambientais podem favorecer o desenvolvimento das áreas analisadas.
Origem do projeto
O projeto colhe resultados de experiências anteriores proporcionadas pela missão AlfaCrux, primeiro satélite do Distrito Federal, que orbitou no planeta entre 2022 e 2024. Entre os feitos da iniciativa estão a coleta de informações ambientais e capacitação de 30 pesquisadores em tecnologia espacial. As ações são realizadas no Laboratório de Simulação e Controle de Sistemas Aeroespaciais (LODESTAR), na UnB.
A equipe de Borges conta com o suporte tecnológico da empresa espanhola Alén Space e as contribuições acadêmicas das Universidades de Vigo, na Espanha, e de Nottingham, no Reino Unido.
O projeto Perception também é financiado pela Fundação de Apoio à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF), que injetou R$1,5 milhão por meio do edital Learning Tech. A mesma instituição de fomento já havia destinado verba para viabilizar as ações do AlfaCrux.
Reprodução: O Globo